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Irene Lisboa :
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AMOR :
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Invictus :
Do fundo desta noite que persiste
A me envolver em breu - eterno e espesso,
A qualquer deus - se algum acaso existe,
Por mi’alma insubjugável agradeço.
Nas garras do destino e seus estragos,
Sob os golpes que o acaso atira e acerta,
Nunca me lamentei - e ainda trago
Minha cabeça - embora em sangue - ereta.
Além deste oceano de lamúria,
Somente o Horror das trevas se divisa;
Porém o tempo, a consumir-se em fúria,
Não me amedronta, nem me martiriza.
Por ser estreita a senda - eu não declino,
Nem por pesada a mão que o mundo espalma;
Eu sou dono e senhor de meu destino;
Eu sou o comandante de minha alma.
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(retirado, com a devida citação, de "Pensador")
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Murillo Araujo :
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CANÇÃO DA LUA QUE LAVA :
Lua, que lavas teus linhos,
sempre a lavar
numa lixívia de nuvens,
branca, branquinha de espuma,
e escorres tudo lá no alto
para seca;
lua que lavas teus linhos
pelo valados maninhos,
na serra onde vai nevar;
oh lua alagando o mundo
nesta espuma de cegar!
lua que lavas teus linhos
e que os enxáguas
e os pões em qualquer lugar —
nos terraços lageados,
nos velhos muros calados,
nos laranjais do pomar
ou nos campos orvalhados
onde estão a gotejar —
vem, lua, e lava minha alma!
Oh lava minha alma em lágrimas,
para que Deus, sol das almas,
venha a enxugar.
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(retirado, com a devida citação, de "Poesia dos Brasis")
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Edward Carpenter :
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El Océano del Sexo :
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Mantener continente al gran mar. al gran océano del sexo, dentro de si,
Con el flujo y el reflujo que presiona sobre los lindes del cuerpo, los amados genitales,
Vibrando, estremeciéndose emocionalmente ante el estelar destello de los ojos de todos los
seres humanos.
Reflejando los Cielos y todas las Criaturas,
¡Cuan maravilloso! Apenas se acerca una figura, macho o hembra, un estremecimiento
lo atraviesa,
Tal como cuando en el acantilado que limita el borde de una laguna alguien se mueve y
entonces, en las entrañas del agua hay también movimiento,
Lo mismo ocurre en el borde de este Océano.
El esplendor de la forma humana, aunque débilmente delineada bajo los árboles o junto a la
orilla, lo agita violentamente con lejanas reminiscencias;
(Pero si las riberas del mar son fuertes y sólidas, ni débilmente ha de pasarlas);
Hasta que tal vez el contacto, la cercanía, el encanto de los ojos de alguien,
Estalle, incontrolable,
Oh maravilloso Océano del Sexo,
Océano de millones y millones de minúsculas formas humanas con apariencia de semillas, contenidas (si verdaderamente lo están) dentro de cada persona,
Espejos del universo mismo.
Templo sacro y recóndito sagrario de cada cuerpo,
Río-Océano que corre siempre a través del gran tronco y de las ramas de la Humanidad,
¡Del que. después de todo, sólo el individuo brota como una yema!
¡Océano que tan maravillosamente contenemos (si en realidad te contenemos), y que, sin
embargo, nos contienes!
A veces, cuando te siento y conozco dentro, y me identifico contigo,
Entiendo que yo también pertenezco a la progenie sin fecha de Cielo y Eternidad,
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(retirado, com a devida citação, de "Pa lo que hemos quedao")
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Raul Seixas :.
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Sim, curvo-me ante a beleza de ser
às vezes zombo de mim mesmo ao término de uma
inteligente e aguçada constatação.
Ermitão do insólito, poeta da dúvida
Entretanto duvido a dúvida por ser dúvida
fruto de uma premissa lógica
Mas nego, afirmo e não duvido de nada
Prisioneiro sem grade desse silêncio eterno.
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A saudade é um parafuso
que quando a rosca cai
só entra se for torcendo
porque batendo não vai.
Mas quando enferruja dentro
nem distorcendo não sai.
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Sou o que sou
porque vivo da minha maneira...
Você procurando respostas olhando pro espaço,
e eu tão ocupado vivendo...
Eu não me pergunto,
Eu faço!
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(retiradas, com a devida citação, de "Pensador")
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Dina Mangabeira :
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Tu já não me olhas, por quê? No langor do fim do dia,
Não sejas fingido assim... quando o sol já é poente,
Somente um cego não vê há uma invasão de agonia,
o quanto gostas de mim. matando a alma da gente.
Abusei na juventude. Quando desatar o laço
Fiz da vida o que bem quis do presente que lhe dei,
e, em razão dessa atitude, não deixe cair o abraço
hoje, sou muito infeliz. que dentro dele enviei.
Sem ligar à tua dor, Se você for humilhado,
ingrata fui, ó Jesus! não se vingue – é ser igual:
De ti recebi amor pense em Deus crucificado
e em paga o preguei na cruz. por quem não fez nenhum mal .
O trovador tem magia Na vida sou como a artista
quando ele fala de amor; que ao tear vai tricotando
faz trova com harmonia e, como uma estrategista,
e ainda a enfeita com flor seu destino vai trançando.
Se eu pudesse lhe daria, Da saudade fiz um laço,
ó minha mamãe querida, com muito amor e carinho!
da fórmula da alquimia E quanto mais laços faço,
o elixir da longa vida! de saudade me definho.
O tempo vai, tempo vem, Hoje, vou dar-te um abraço
e eu, à espera no portão, apertado de tal jeito
fiz da espera meu refém, que do gesto deixo um laço
do tempo, a desilusão. ilustrado no meu peito.
De cinzas pintei a testa, Acabou num triste fim
quarta-feira da paixão; o que foi sonho e beleza.
maquiei-me para a festa Teu amor morreu em mim
da linda ressurreição. por eu ver nele a incerteza.
O homem, por ser machão, “Mineiro não diz, sussurra.”
aos gritos, diz o que quer, Assim falava meu pai;
mas, mansinho, lambe o chão “Nem usa cofre, usa burra
onde pisa uma mulher. só por ser mineiro, uai!”
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(retirado, com a devida citação, de "falando de trova")
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Paul Claudel :
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É meio dia. Eu vejo a igreja aberta. E devo entrar.
Mãe de Nosso Senhor, eu não venho rezar.
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circuladô de fulô :
circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie
porque eu não posso guiá eviva quem já me deu circuladô de
fulô e ainda quem falta me dá
soando como um shamisen e feito apenas com um arame
tenso um cabo e uma lata velha num fim de festafeira no
pino do sol a pino mas para outros não existia aquela música
não podia porque não podia popular aquela música se não
canta não é popular se não afina não tintina não tarantina e
no entanto puxada na tripa da miséria na tripa tensa da mais
megera miséria física e doendo doendo como um prego
na palma da mão um ferrugem prego cego na
palma espalma da mão coração exposto como um nervo
tenso retenso um renegro prego cego durando na palma
polpa da mão ao sol
o povo é o inventalínguas na malícia da maestria no matreiro
da maravilha no visgo do improviso tenteando a travessia
azeitava o eixo do sol
e não peça que eu te guie não peça despeça que eu te guie
desguie que eu te peça promessa que eu te fie me deixe
me esqueça me largue me desamargue que no fim eu acerto que
no fim eu reverto que no fim eu conserto e para o fim me
reservo e se verá que estou certo e se verá que tem jeito e se
verá que está feito que pelo torto fiz direito que quem faz
cesto faz cento se não guio não lamento pois o mestre que
me ensinou já não dá ensinamento.
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(retirado, com a devida citação, de "vicio da poesia")
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