Sábado, 20 de Novembro de 2010

Poemas escolhidos - CXXXVII

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Uma palavra vem - dos signos brota

 

apercebida vida, abrupto senso,

 

o sol detém-se, esferas são silentes,

 

e tudo se concentra à sua volta.

 

 

 

Uma palavra - brilho, voo, fogo,

 

língua de chama, estrela cadente

 

- e a treva monstruosa que regressa

 

no vácuo espaço entre mim e o mundo.

 

 

 

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Gottfried Benn

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publicado por picareta escribante às 07:31
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Sexta-feira, 19 de Novembro de 2010

Poemas escolhidos CXXXVI

 

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..............HORAS RUBRAS..................

 


Horas profundas, lentas e caladas,

Feitas de beijos sensuais e ardentes,

De noites de volúpia, noites quentes

Onde há risos de virgens desmaiadas...


Oiço as olaias rindo desgrenhadas...

Tombam astros em fogo, astros dementes,

E do luar os beijos languescentes

São pedaços de prata plas estradas...


Os meus lábios são brancos como lagos...

Os meus braços são leves como afagos.

Vestiu-os o luar de sedas puras...


Sou chama e neve branca e misteriosa...

E sou, talvez, na noite voluptuosa,

Ó meu Poeta, o beijo que procuras !

 


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Florbela Espanca

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publicado por picareta escribante às 07:27
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Quinta-feira, 18 de Novembro de 2010

Poemas escolhidos - CXXXV

 

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.........................P A L Á C I O   E M   R U Í N A S...............................

 

 

 

Todo enterrado na sombra escura de um parque triste, mortificado,

Há o meu palácio cheio de luto, há o meu palácio lúgubre e só :

Tem sombras mudas deambulando, vagas e lentas, sem um cuidado,

Nascem ortigas pelos terraços, andam as mesas cheias de pó.

 

Eu tinha cisnes, brancos e pretos, nos lagos calmos, entre roseiras,

E tinha pombas, e tinha pombas, brancas e mansas, no meu pombal,

E à porta nobre, lindas, viçosas, frescos abraços de trepadeiras...

Laranjas de oiro, cobertas de oiro, no mar escuro de um laranjal.

 

Eu tinha tudo quanto o Desejo, nas fantasias mais provocantes,

Quanto o Desejo mais esquisito q´ria e pensava realizar,

Tinha na vida rápidos sonhos, tinha na vida leves instantes,

Leves instantes, rápidos sonhos, feitos apenas p´ra me encantar !

 

Mas tudo, um dia, foi arrastado na asa sombria do meu Destino...

Morrem as pombas, morrem os cisnes, secam os lagos - pobre de mim !

Caem de podres os frutos de oiro que me encantavam desde menino,

Murcham as rosas e as trepadeiras, numa agonia que não tem fim !

 

E no palácio por onde outrora tinham passado, entre grandezas,

Cheios de jóias, cheios de sedas, cobertos de oiro, celestiais,

Corpos altivos de imperatrizes, corpos esbeltos de arquiduquesas,

Lindos de pompa, lindos de graça, lindos de tudo, quase imortais,

 

No meu palácio todo enterrado num parque triste, mortificado,

No meu palácio frio de luto, no meu palácio lúgubre e só,

Há sombras mudas deambulando, vagas e lentas, sem um cuidado,

Nascem ortigas pelos terraços, cobrem as mesas ondas de pó !

 

 

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Alfredo Pimenta

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Quarta-feira, 17 de Novembro de 2010

Poemas escolhidos CXXXIV

 

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RETRATO DE ALVES REDOL

 


Porém se por alguém não foi ninguém

cantou e disse flor canção amigo

a si o deve. A si e mais a quem

floriu  cresceu  cantou  lutou consigo.

Hmem que vive só não vive bem

morto que morre só é negativo

morrer é separar-se de ninguém

e contudo com todos ficar vivo.

Nado-vivo da morte. É isso. É isso.

Uma espécie de forno de bigorna

de corpo imorredoiro que transforma

em fusão o metal do compromisso :

Forjar o conteúdo pela forma :

marrar até norrer. E dar por isso.

.

J. C. Ary dos Santos

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Terça-feira, 16 de Novembro de 2010

Poemas escolhidos CXXXIII

 

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             M A I S   A L T O


 

Mais alto, sim ! mais alto, mais além

Do sonho, onde morar a dor da vida,

Até sair de mim ! Ser a Perdida,

A que se não encontra ! Aquela a quem

 

O mundo não conhece por Alguém !

Ser orgulho, ser águia na subida,

Até chegar a ser, entontecida,

Aquela que sonhou o meu desdém !

 

Mais alto, sim ! Mais alto ! A Intangível

Turris Ebúrnea erguida nos espaços

À rutilante luz dum impossível !

 

Mais alto, sim ! Mais alto ! Onde couber

O mal da vida dentro dos meus braços,

Dos meus divinos braços de Mulher !

 

.

Florbela Espanca

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Segunda-feira, 15 de Novembro de 2010

Poemas escolhidos CXXXII

 

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P  O  E  S  I  A  S    I


 

Dorme sobre o meu seio,

Sonhando de sonhar...

No teu olhar eu leio

Um lúbrico vagar.

Dorme no sonho de existir

E na ilusão de amar.

 

Tudo é nada, e tudo

Um sonho finge ser.

O ´spaço negro é mudo.

Dorme, e, ao amanhecer,

Saibas do coração sorrir

Sorrisos de esquecer.

 

Dorme sobre o meu seio,

Sem mágoa nem amor...

No teu olhar eu leio

O íntimo torpor

De quem conhece o nada-ser

De vida e gozo e dor.

 

.

Fernando Pessoa

.

 


 



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Domingo, 14 de Novembro de 2010

Poemas escolhidos CXXXI

 

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           AUTO-RETRATO

 

 

Poeta é certo mas de cetineta

fulgurante de mais para alguns olhos

bom artesão na arte da proveta

marciso de lombardas e repolhos.

 

Cozido à portuguesa mais as carnes

suculentas da auto-importância

com toicinho e talento ambas as partes

do meu caldo entornado na infância.

 

Nos olhos uma folha de hortelã

que é verde como a esperança que amanhã

amanheça de vez a desventura.

 

Poeta de combate disparate

palavrão de machão no escaparate

porém morrendo aos poucos de ternura.

 

 

.

J. C. Ary dos Santos

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Sábado, 13 de Novembro de 2010

Poemas escolhidos CXXX

 

.

 

 De AVE DO SILÊNCIO

 

 

Sobre a paisagem verde

ficou uma sombra

- a sombra do meu vulto

a erguer-se em silêncio

e a sumir-se pela terra dentro.

 

 

E a luz que a perde

e a queima, a própria luz

a revela ao oculto,

- e assim me crucifico

na minha própria cruz.

 

.

António de Navarro

.

 

 

 

 

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Sexta-feira, 12 de Novembro de 2010

Poemas escolhidos CXXVIII

 

.

 

                  M E N D I G A

 

 

Na vida nada tenho e nada sou;

Eu ando a mendigar pelas estradas...

No silêncio das noites estreladas

Caminho, sem saber para onde vou !

 

Tinha o manto do sol... quem mo roubou ? !

Quem pisou minhas rosas desfolhadas ? !

Quem foi que sobre as ondas revoltadas

A minha taça de oiro espedaçou ?

 

Agora vou andando e mendigando,

Sem que um olhar de mundos infinitos

Veja passar o verme, rastejando...

 

Ah ! quem me dera ser como os chacais

Uivando os brados, rouquejando os gritos

Na solidão dos ermos matagais ! ...

 

.

Florbela Espanca

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Quinta-feira, 11 de Novembro de 2010

Poemas escolhidos CXXIX

 

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            SONHO ORIENTAL

 

 

Sonho-me ás vezes rei, nalguma ilha,

Muito longe, nos mares do Oriente,

Onde a noite é balsâmica e fulgente

E a lua cheia sobre as águas brilha...

 

O aroma da magnólia e da baunilha

Paira no ar diáfano e dormente...

Lambe a orla dos bosques, vagamente,

O mar com finas ondas de escumilha...

 

E enquanto eu na varanda de marfim

Me encosto, absorto num cismar sem fim,

Tu, meu amor, divagas ao luar,

 

Do profundo jardim pelas clareiras,

Ou descansas debaixo das palmeiras,

Tendo aos pés um leão familiar.

 

.

Antero de Quental

.

 

 

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